Economia Azul: Portugal no rumo da sustentabilidade e crescimento marítimo

O mar sempre foi parte integrante da identidade portuguesa, mas hoje assume um papel estratégico ainda mais evidente: é um motor de desenvolvimento económico, de inovação tecnológica e de sustentabilidade ambiental. Este conjunto de atividades ligadas, direta ou indiretamente, ao oceano - desde o turismo náutico à aquicultura, passando pela robótica submarina, construção naval, energias renováveis e alimentação celular - define aquilo a que chamamos Economia Azul.

Um potencial sem paralelo
Portugal possui uma das maiores Zonas Económicas Exclusivas (ZEE) da Europa, com 1,7 milhões de quilómetros quadrados, cerca de 18 vezes o tamanho do território continental. Caso a proposta de extensão da plataforma continental seja aprovada, esta área poderá ascender a cerca de 4 milhões de quilómetros quadrados, colocando o país entre os que detêm maior área marítima no mundo.
Este vasto território submerso representa um “oceano” de oportunidades económicas, desde a exploração sustentável de recursos até ao desenvolvimento de tecnologias e infraestruturas marítimas de ponta.

O que é a economia azul? Alguns dados chave que ajudam a compreender este contexto.
A Economia Azul engloba todas as atividades ligadas ao mar, desde a pesca e turismo náutico até à robótica submarina, energias renováveis offshore e biotecnologia marinha, com foco no uso sustentável dos recursos oceânicos.

Portugal: Potencial Único

  • ZEE: 1,7 milhões km² (18x território continental), podendo chegar a 4 milhões km² com extensão da plataforma continental.
  • Estratégia Nacional para o Mar 2021-2030: visa aumentar em até 30% o VAB da economia do mar e atingir 7% de contributo para o PIB nacional.
  • 13 áreas prioritárias: ciência e inovação, biodiversidade, bioeconomia, pesca e aquicultura, energias renováveis, portos, turismo náutico, entre outras.

Impacto Atual

  • 3,9% do VAB nacional (2016-2018).
  • 4% do emprego nacional.
  • Crescimento de 18,5% no VAB entre 2016-2018 (vs. 9,6% da economia geral).

Setores em Expansão

  • Energias renováveis offshore: Plano de Afetação identifica 2.711,6 km² para instalação de até 9,4 GW de capacidade.
  • Primeiro leilão previsto para 2025 (investimento estimado de 9 mil M€).
  • WindFloat Atlantic: primeiro parque eólico marítimo flutuante semi-submersível do mundo.

Tendências Globais (OCDE 2050)

  • VAB da economia oceânica global poderá subir de 2,42 para 4,7 biliões € (+94%).
  • Forte crescimento em energias marinhas, aquicultura e biotecnologia.
  • Transição energética e regulação ambiental desafiarão petróleo e gás offshore.

Desafios-Chave

  • Alterações climáticas e eventos extremos.
  • Pesca ilegal e sobre-exploração de recursos.
  • Mineração em águas profundas: riscos ambientais e regulatórios.

Oportunidades para Investidores e PME

  • Infraestruturas portuárias verdes e logística marítima inteligente.
  • Ecoturismo e turismo náutico sustentável.
  • Tecnologias para monitorização e proteção marinha.
  • Projetos de economia circular ligados a recursos marinhos.

Estratégia Nacional para o Mar 2021-2030
A Estratégia Nacional para o Mar (ENM), atualizada e aprovada em 2021, orienta as políticas marítimas até 2030, combinando desenvolvimento sustentável, valorização económica e proteção ambiental. O documento define 13 áreas prioritárias, entre as quais ciência e inovação, biodiversidade, bioeconomia, pesca e aquicultura, energias renováveis, portos e transportes, e segurança marítima.
O objetivo é ambicioso: aumentar em até 30% o Valor Acrescentado Bruto (VAB) da economia do mar até 2030, elevando o seu contributo para cerca de 7% da economia nacional.

Portugal na vanguarda da inovação
Um dos setores mais promissores é o das energias renováveis offshore. O país já é pioneiro com o WindFloat Atlantic, o primeiro parque eólico marítimo flutuante semi-submersível do mundo, operacional desde 2020, ao largo de Viana do Castelo.
Com o Plano de Afetação para as Energias Renováveis Offshore, Portugal planeia instalar até 9,4 GW de capacidade, com o primeiro leilão previsto para 2025 com um investimento estimado de 9 mil milhões de euros. Esta aposta poderá posicionar o país como referência global na transição energética marítima.

Impacto económico atual
Segundo dados da Conta Satélite do Mar, a economia do mar representou 3,9% do VAB nacional no triénio 2016-2018, com um crescimento de 18,5% nesse período, quase o dobro do registado pela economia nacional no mesmo intervalo. O setor emprega cerca de 4% da população ativa, superando áreas como agricultura e silvicultura.

Compromissos internacionais e visão global
Portugal esteve presente nos Compromissos de Nice para o Oceano (UNOC3, 2025), que estabeleceram metas globais para travar a degradação marinha, combater a pesca ilegal, reforçar a ciência oceânica e mobilizar financiamento para uma economia azul sustentável. Estes compromissos alinham-se com as projeções da OCDE, que prevê que o VAB global da economia oceânica quase duplique até 2050, passando de 2,42 biliões de euros para 4,7 biliões.

Desafios no horizonte
Apesar do potencial, o caminho exige cautela: as alterações climáticas, a sobrepesca, a poluição e a pressão sobre os ecossistemas marinhos colocam em risco a resiliência dos oceanos. A mineração em águas profundas e a exploração de recursos não-vivos exigem regulação rigorosa para evitar danos irreversíveis.

O futuro da Economia Azul
O futuro passa por integrar ciência, tecnologia e governação sustentável, garantindo que o crescimento económico não compromete a saúde dos ecossistemas marinhos. Com uma localização estratégica, vastos recursos e uma política nacional alinhada com as metas globais, Portugal tem condições únicas para liderar a transformação da Economia Azul, tornando o mar não apenas parte da sua história, mas também da sua prosperidade futura.

Andreia Arenga
25.08.2025

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